ANTICK, Paul. Malditos Moletons: Benetton e a
Mecânica da Exclusão Cultura - P. 84 – 109.
O
artigo Malditos Moletons: Benetton e a Mecânica da Exclusão Cultural de
Paul Antick tem o propósito de questionar a "identidade da propaganda nos
estudos da cultura visual, em geral, e na teoria da fotografia. Na cultura
capitalista, a foto publicitária é vista como um "conjunto falso de
necessidades e desejos", em decorrer disso, diversos debates acadêmicos
sobre publicidade e fotografia vêm acontecendo. Debates que fazem análise da
fotografia e seus usos, que discutem o problema de como as pessoas fazem uso
desse tipo de fotografia e produzem significado em relação à ele.
O
autor chama a atenção pela comum classificação que a foto publicitária ganha de
"não autêntico", que na opinião dele serve para ofuscar o seu
potencial comunicativo, pois vários anúncios podem utilizar a fotografia tanto
para reforçar quanto para subverter ideologias dominantes em contextos
interpretativos específicos.
Por
causa dessa problemática o autor faz uma análise da natureza da crítica feita
em relação a Benetton durante a década de 1980 e início dos anos de 1990. Com
isso ele tem a intenção de examinar como as campanhas publicitárias da Benetton
desde United Colors of Benetton
(1983) até The Shock of Reality (1992)
foram representadas em uma variedade de contextos acadêmicos e jornalísticos.
Olivieiro Toscani |
Até
1983, a publicidade da Benetton era apenas voltada à seus produtos, até que
Olivieiro Toscani, diretor de arte e fotógrafo da Benetton, sugeriu que as
campanhas deixassem de ser "superficiais" e "tolas" e
passassem a ter "questões de envolvimento global". Com isso, diversas
campanhas foram feitas com pessoas de etnias e raças diferentes, entre outras
questões raciais. Porém, até 1991, apesar de terem tentado mudar a temática
convencional da propaganda de massa, eles ainda utilizavam vários artifícios em
suas fotografias que caracterizam as fotografias de "propaganda de
massa". Então, à partir disso houve uma ruptura muito mais radical dos
códigos e técnicas da propaganda convencional, causando ausência de qualquer
referência iconográfica ao "produto real" da Benetton. Segundo
o autor, apesar da mudança simbólica gradual da Benetton de
"publicitária" para "comentarista social", seria difícil de
não concordar com o argumento de que as estratégias publicitárias da Benetton
continuaram intrinsecamente ligadas a um conjunto de interesses explicitamente
comerciais.
O
autor coloca em seu artigo que Shock of
Reality foi sem dúvida o ensaio mais provocativo da Benetton, pois foram escolhidas
imagens que "expressam temas humanos poderosos de preocupação
global". Representou uma quebra simbólica crucial com as assim chamadas
"mentiras" e com a "superficialidade" da propaganda, algo
que a Benetton nunca tinha conseguido nas campanhas anteriores. A reação negativa da imprensa em relação à essa
campanha, não se deu somente pela aliança forjada entre a fotografia documental
e a forma do produto, mas a natureza do tipo específico de produto com o qual a
fotografia documental está associada.
Ensaio "Shock os Reality" |
O
autor coloca também que assim como a fotografia documental, a imprensa é
convencionalmente tida como uma testemunha privilegiada de eventos mundiais e
seu papel é relatar esses eventos para o público em geral de uma forma sensata
e desinteressada. De fato, foi precisamente a fusão dos mundos da
fotojornalismo documental e do comércio de negócios em Shock of Reality que serviu para chamar atenção para as
contradições que permanecem largamente não reconhecidas na própria imprensa.
O
autor acredita que a foto Family in Ohio
contribuiu positivamente, de maneira moderadamente subversiva, para os
discursos relacionados à AIDS. Se analisar a foto, nota-se que ela traz uma
esfera de religiosidade, por isso o autor a considera como uma imagem "positiva"
sobre HIV e AIDS.
Family en Ohio |
O
mundo é cheio de regrinhas e pré-definições, então quando fugimos um pouquinho
se quer, somos atacados por todos os lados. No caso da Benetton, ela fugiu
extremamente da receita e por isso causou tanta polêmica, tanto que é discutida
até hoje. Enfim, é um excelente texto, vale muito à pena ser lido,
interpretado, analisado, e passado para frente para outras pessoas.
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